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Mogno africano: “ouro verde” pode garantir aposentadoria rural


Cultivo desta espécie nobre de madeira ganhou força nos últimos anos e atraiu investidores de peso e personalidades.

 

Ele já vendeu mais livros que Paulo Coelho, algo em torno de 11 milhões de unidades, e na maior parte do tempo, viaja mundo afora para levar suas teorias de autoajuda a diversos públicos, de várias idades. Mas é nos finais de semana que o escritor e médico psiquiatra Augusto Cury faz o que mais gosta, fica perto da natureza e longe dos holofotes. Cury sempre foi um homem ligado ao campo (ele nasceu em Colina, no interior de São Paulo) e, mesmo depois de amealhar uma fortuna como best seller, não esqueceu suas raízes, pelo contrário, investiu no campo. Mais precisamente em reflorestamento. Em Prata, na região do Triângulo Mineiro, ele mantém o maior cultivo individual de mogno africano (khaya Ivorensis) do país, 500 hectares. “Precisamos entender que é possível desenvolver atividades agrícolas rentáveis e ao mesmo tempo, respeitar o meio ambiente”, diz ele.


O escritor e psiquiatra Augusto Cury plantou 500 hectares de mogno africano em Prata (MG): "Respeitar o meio ambiente é fundamental para o futuro".

O escritor e psiquiatra Augusto Cury plantou 500 hectares de mogno africano em Prata (MG): "Respeitar o meio ambiente é fundamental para o futuro".

Cury é avesso a números e alega não saber, exatamente, quanto o investimento em mogno lhe dará de retorno financeiro (estas informações ficam sob a administração de sua esposa e do engenheiro agrônomo responsável pela floresta), mas sabe que o mercado de madeiras nobres está em alta e a demanda é crescente. “Nós, produtores rurais temos que ter responsabilidade e um compromisso sério com a natureza”, diz. Minas Gerais concentra as maiores florestas plantadas com mogno africano, mas a espécie pode ser encontrada no Pará, onde surgiram os primeiros plantios há 35 anos, Goiás, Paraná, Alagoas, Espírito Santo e em São Paulo. Em Pirapora (MG), os empresários Ricardo Tavares, antigo dono do café Três Corações e da Suco Mais, vendido para a Coca Cola, e Edmundo Coutinho, também cultivam quase a mesma área de Cury, 500 hectares. Eles, assim como o escritor, ainda não iniciaram os cortes da madeira, mas quando isso acontecer, por volta do 12º e 15º ano, terão uma renda de quase R$ 300 milhões, calculados nos preços atuais. “É uma aposentadoria rural”, afirma Tavares. “É um investimento de longo prazo, que pode ser consorciado com vários cultivos diferentes, e pela experiência que estamos vivendo, podemos afirmar que é uma espécie de custo muito mais baixo que as demais madeiras nobres”, diz. (Na fazenda dos sócios, além do plantio, eles mantêm um viveiro de clones de mudas e consorciam o cultivo da árvore com café e banana prata, mas é possível consorciar o cultivo com cacau e açaí).


Em Pirapora (MG) está a floresta plantada dos empresários Ricardo Tavares e Edmundo Coutinho, onde eles cultivam mogno africano consorciado com banana prata e café. Em 15 anos, o lucro deles deve girar em torno de R$ 300 milhões

Em Pirapora (MG) está a floresta plantada dos empresários Ricardo Tavares e Edmundo Coutinho, onde eles cultivam mogno africano consorciado com banana prata e café. Em 15 anos, o lucro deles deve girar em torno de R$ 300 milhões.

Tavares e Coutinho pesquisaram muito antes de investir na espécie, principalmente porque este ainda é um cultivo novo no país. O respaldo para o investimento veio de fontes seguras. Segundo a Organizações das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a demanda por madeira no mundo, que era de 1,6 bilhão de metros cúbicos em meados de 1990, passará a 3 bilhões de metros cúbicos em 2012 e a maior parte desta demanda será puxada por países em desenvolvimento. “No Brasil, onde a demanda por madeira é crescente, por conta da expansão do setor de construção civil, temos apenas 7% de florestas plantadas e vamos demandar 1.2 bilhão de metros cúbicos de madeira”, explica o professor da Fundação Getúlio Vargas, Mario Monzoni Neto. “Precisamos com urgência de florestas plantadas”, diz.

O “ouro-verde”


O pesquisador aposentado da Embrapa Orienta, Ítalo Claudio Falesi, posa ao lado da primeira árvore de mogno africano plantada no Brasil, em 1977. Hoje, ele é produtor de madeira e estuda as principais doenças da espécie (Foto: Arquivo Pessoal).

 

O mogno africano chegou ao Brasil pelas mãos do ministro da agricultura da Costa do Marfim em 1977. “Uma comitiva estava visitando a região amazônica e passou pela sede da Embrapa Oriental, em Belém do Pará (PA). O homem enfiou a mão no bolso de sua túnica colorida, tirou umas sementes e me deu. Ele disse que aquilo era puro ouro verde”, lembra o pesquisador Ítalo Cláudio Falesi. “Fui no quintal da Embrapa e plantei a árvore. Hoje, ela está gigante, com um diâmetro imenso, é a mais antiga árvore de mogno africano no país”, afirma. Falesi se aposentou, mas não abandonou a árvore. Ele investiu em 125 hectares de mogno africano em uma propriedade particular e hoje, já tem sementes da espécie para vender (o quilo da semente custa em média R$ 2 mil), mas dedica principalmente em estudar doenças e pragas da cultura. São poucas, segundo ele. “Os principais problemas são as formigas cortadeiras, que causam um prejuízo tremendo, e a broca, explica. “Mas se o produtor fizer um trabalho preventivo, principalmente com as formigas, o mogno africano terá um custo baixo para quem produz”. Falesi também afirma que a árvore é resistente a doença que divide o tronco ao meio, como ocorre na maioria das espécies nobres. Estes custos, segundo o agrônomo Canrobert Tormin, de Goiânia, são surpreendentes. Segundo ele, que trabalha com mudas destas e de outras espécies nobres, um hectare plantado com mogno africano, após 10 anos, teria um custo de R$ 22,5 mil e, neste mesmo período, o retorno por hectare é de aproximadamente, de R$ 400 mil. “Cada árvore desta espécie produz em torno de 20 metros cúbicos de madeira serrada por hectare por ano e, ao longo de 15 anos, a receita do produtor pode superar os R$ 400 mil, desde que haja um acompanhamento severo durante o crescimento das árvores”, destaca. O mercado de madeiras nobres no Brasil tem se mantido aquecido. De 2002 a 2007 houve um aumento de 83% no preço das madeiras e esta tendência está se mantendo, segundo o índice CEPEA. Tavares, de Pirapora, segue este foco. Sua meta é produzir madeira para o mercado interno. “Claro que há boas chances de exportação, principalmente para mercados europeus e americanos, mas com o crescimento do mercado nacional, o produtor não precisa se preocupar com o mercado externo, pois ele tem boas oportunidades de vender esta madeira no mercado doméstico, com bons preços”, afirma. O mogno africano é destinado à fabricação de movelaria fina.


Fonte: Revista Globo Rural, ed. 04/2012.


 

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